Dos mais de 26 milhões de estudantes brasileiros matriculados no ensino médio, 57,6% (15 milhões) estudam em escolas com baixa ou mínima resiliência a enchentes e 33,8% (8 milhões) em instituições não preparadas para seca
As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores vinculados ao Observatório Nacional de Segurança Hídrica e Gestão Adaptativa (ONSEADAdapta) — um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com projetos apoiados pela FAPESP
Alguns resultados do trabalho, em revisão, foram apresentados durante mesa-redonda sobre emergência climática e gestão adaptativa para segurança hídrica e redução de riscos de desastres durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento aconteceu no campus da Universidade Federal Rural.
“No ano passado, mais de 1 milhão de estudantes [do ensino médio] perderam aulas no Brasil por causa de eventos climáticos extremos de seca ou de enchentes”, disse Eduardo Mario Mendiondo, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP) e um dos autores do estudo
Os pesquisadores combinaram o Índice de Segurança Hídrica (ISH) — ferramenta utilizada para avaliar e monitorar a segurança hídrica no Brasil, considerando diferentes dimensões e riscos associados ao uso da água — com mapas georreferenciados para identificar escolas que vivenciam os impactos de extremos de seca e chuvas no país.
Os resultados das análises indicaram que quase 5 milhões de estudantes, de acordo com o Censo Escolar de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão estudando em áreas com resiliência mínima a inundações no país e 10 milhões em regiões com baixa adaptação. E quase 1 milhão de estudantes brasileiros estão em áreas com resiliência mínima à seca, 4 milhões em áreas de baixa resiliência e 3 milhões nas de resiliência média, indica o estudo.;
No ano passado, durante a seca severa que acometeu a região amazônica, onde estão situadas as bacias dos rios Trombetas e Madeira, muitos alunos não puderam frequentar a escola porque o nível da água ficou muito baixo para a navegação, exemplificam os autores do estudo.
Para lidar com os extremos de água na região, têm sido adotadas medidas recorrentes como arrecadar fundos para ajudar os alunos, tentar obter suprimentos de alimentos, comprar materiais escolares e ajudar a pagar professores e funcionários. Entre os meses de julho e novembro, os mais secos na região, os professores precisam flexibilizar o currículo
Com base nessas experiências, tem sido utilizado o termo “resiliência pedagógica” para descrever as práticas educacionais adotadas pelos professores na Amazônia a fim de lidar com as interrupções das aulas em razão da seca e das enchentes na região, apontam os autores do estudo. “Esse cenário pode causar sérios impactos na educação no Brasil. Por isso que na LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] é premissa mandatória, agora, a gestão de risco de desastres”, afirmou Mendiondo.
Fonte – INCT