No final da década de 90, os artistas do chamado “samba de raiz” voltaram a ter grande destaque, trazendo à mídia nomes como o de Dudu Nobre e valorizando as Velhas Guardas de grandes escolas de samba do Rio de Janeiro, como as tradicionais Mangueira e Portela.

Introdução

Do tradicional samba dos escravos, passando pelo primeiro samba brasileiro Pelo Telefone(1917), aos ícones Cartola e Assis Valente, isso sem contar com o samba de breque de Moreira (Morengueira) da Silva, muita coisa aconteceu. Música para diversão (muitas vezes romântica também), que por muitas vezes serve como um aquecimento para os sambões do subúrbio do Rio de Janeiro, o pagode é um dos ritmos mais populares do Brasil. Das rodas de samba e pagode, surgiram grandes artistas da música nacional, tais como Alcione, Clara Nunes e Beth Carvalho. Do grupo Fundo de Quintal, vieram os compositores Arlindo Cruz e Sombrinha, isso sem falar nos mestres Jorge Aragão e Almir Guineto.

Quer mais? Dessas rodas vieram ainda Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Jovelina Pérola Negra, sempre presentes nos shows e apresentações do gênero. E como esquecer as letras irreverentes de Bezerra da Silva? Daí por diante outros estados brasileiros também aderiram ao pagode, mas dando a sua própria sonoridade. Foi o caso das bandas paulistas, que, no início da década de 90, conquistaram o Brasil, a exemplo do Raça Negra e do Negritude Júnior. De Minas Gerais veio o Só Pra Contrariar, que virou sensação na voz de Alexandre Pires, vocalista da banda.

No final da década de 90, os artistas do chamado “samba de raiz” voltaram a ter grande destaque, trazendo à mídia nomes como o de Dudu Nobre e valorizando as Velhas Guardas de grandes escolas de samba do Rio de Janeiro, como as tradicionais Mangueira e Portela.

A Bahia não ficou de fora, dando (como sempre) o seu próprio tempero ao pagode. Grupos como o É o Tchan e o Terra Samba, agregaram o batuque dos sambas de roda, resgatando as raízes do Recôncavo Baiano. Dessa nova sonoridade surgiram bandas como o Harmonia do Samba, que, liderada pelo vocalista Xanddy, logo ganhou projeção nacional.

História do samba

Gênero básico da MPB, o samba tem origem afro-baiana de tempero carioca. Ele nasceu nas casas das “tias” baianas da Praça Onze, no centro do Rio (com extensão à chamada “pequena África”, da Pedra do Sal à Cidade Nova), descendente do lundu, nas festas dos terreiros entre umbigadas (semba) e pernadas de capoeira, marcado no pandeiro, prato-e-faca e na palma da mão. Embora antes de Pelo Telefone, assinada por Ernesto dos Santos, o Donga (com Mauro de Almeida) em 1917, outras gravações tenham sido registradas como samba, foi esta que fundou o gênero – apesar da autoria discutida e da proximidade com o aparentado maxixe. Também nesse estilo ambíguo são as principais composições de José Barbosa da Silva, o Sinhô, auto-intitulado “o rei do samba”, que junto com Heitor dos Prazeres, Caninha e outros pioneiros estabelece os primeiros fundamentos do setor, que ganharia uma feição mais definitiva com a chamada “turma do Estácio”.

Formada por Alcebíades Barcellos, o Bide, Armando Marçal, Newton Bastos e Ismael Silva e mais os malandros/sambistas Baiaco, Brancura, Mano Edgar, Mano Rubem (uma brodagem bem anterior aos manos do hip hop), essa corrente injeta uma cadência mais picotada no samba e tem o endosso de filhos da classe média como o ex-estudante de medicina Noel Rosa e o ex-estudante de direito Ary Barroso, que redimensionam o estilo através de obras memoráveis. Com a explosão da era do rádio a partir dos anos 30, o samba ganha enorme difusão através de cantores como Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Mário Reis, Carmen Miranda – que consegue projetá-lo internacionalmente a partir do cinema – e mais adiante Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, entre outros.

Novas adesões como a do refinado baiano Dorival Caymmi, além das harmonias elaboradas de Custódio Mesquita, o molejo de Pedro Caetano, o figurino tropicalista de Assis Valente, a sobriedade de Sinval Silva, o populismo luxuoso de Herivelto Martins e o sotaque interiorano arrastado de Ataulfo Alves conduzem o samba para outros caminhos já ao sabor da indústria musical. A ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas contamina o cenário e do malandro convertido (O Bonde São Januário, de Ataulfo e Wilson Batista) chega-se ao samba-exaltação cujo carro-chefe, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, torna-se o primeiro hino brasileiro no exterior.