Torcedor que é torcedor já começa a passar mal quando o seu time entra em campo. Se o jogo é da seleção, então, a angústia é ainda pior. A impressão que dá é que, a cada chute a gol ou bola na trave, o coração vai saltar pela boca. Na Copa do Mundo de 1998, na França, um estudo inglês registrou um aumento de 25% nas internações hospitalares após a eliminação da seleção de David Beckham & Cia. nas oitavas de final. Na de 2002, na Coreia do Sul e no Japão, o número de internações chegou a 60% na Suíça. Um detalhe é que o país não estava sequer disputando a Copa do Mundo.

Mas se o esporte mais popular do planeta mexe com os nervos dos suíços, que nunca conquistaram um Mundial, o que dizer, então, dos brasileiros, que são pentacampeões? É por isso que VivaSaúde escalou uma seleção de craques, das mais diferentes especialidades, para orientar o torcedor, principalmente o hipertenso, o cardiopata e o portador de diabetes, sobre como se comportar antes, durante e depois dos jogos do Brasil na Copa da África do Sul.

Os médicos alertam que toda e qualquer situação de estresse, como assistir a um jogo de futebol, provoca uma série de reações químicas no organismo. A mais famosa delas é a descarga de adrenalina, um hormônio produzido nas glândulas suprarrenais. Diante de uma situação de perigo ou ameaça, a adrenalina prepara o indivíduo para duas opções: lutar ou fugir. O efeito mais evidente está relacionado ao aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.

Mas a adrenalina provoca também outros efeitos, como a tonificação dos músculos e a dilatação da pupila. Em curto prazo, produz taquicardia, sudorese, boca seca e falta de ar. Em longo prazo, pode causar até diabetes e hipertensão em indivíduos propensos. “Em momentos de expectativa, como a cobrança de um pênalti, recomendo que os torcedores mais vulneráveis deem uma volta pela casa. Que tal ir até a cozinha beber água?”, aconselha Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).

Goleada de emoções

Qual seria, na opinião dos médicos, o momento mais crítico para a saúde do torcedor durante os 90 minutos de uma partida? A hora do gol, os minutos finais, a cobrança de pênalti, a expulsão do centroavante? Segundo o cardiologista Ricardo Vivacqua, do Hospital Pró-Cardíaco (RJ), é impossível quantificar ou qualificar o momento mais emocionante. Tudo vai depender da sensibilidade de cada um. “O mais importante é que o torcedor consiga identificar seus limites físicos e emocionais. E, principalmente, que saiba respeitá-los”, enfatiza Vivacqua.
A principal recomendação dos médicos é que, apesar de toda a euforia, os torcedores não se esqueçam de tomar os seus remédios habituais. Além disso, eles devem prestar atenção redobrada a certos sintomas, como falta de ar, dor de cabeça e palpitações no peito. “Caso apresente algum deles durante a comemoração, o torcedor deve procurar o pronto-socorro”, aconselha Vivacqua.

Na opinião do endocrinologista Márcio Mancini, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), não são apenas os jogadores que devem ser submetidos a exames médicos antes de participarem de uma Copa do Mundo. Os torcedores, principalmente os portadores de diabetes, também deveriam. “O paciente com diabetes tem um risco mais elevado de desenvolver doenças que são fatores de risco cardiovascular, como obesidade, hipertensão e colesterol alto. Desse modo, é importante que as condições do coração tenham sido avaliadas pelo seu médico”, aconselha Mancini.

Os torcedores devem tomar as suas precauções. Antes de ingerir bebida alcoólica, por exemplo, podem consultar o seu médico de confiança e perguntar a ele se o consumo de chope pode causar algum tipo de reação adversa quando misturado com remédios para hipertensão ou diabetes. “No campo ou em casa, devemos estar atentos para não tomar contra-ataque”, brinca o endocrinologista Ivan Ferraz, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Na marca do pênalti

Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Saulo Cavalcanti afirma que, por mais que a Copa do Mundo seja um período festivo, os torcedores que sofrem de diabetes devem respeitar os horários das refeições. Este ano, os jogos do Brasil na primeira fase acontecerão às 15h30, contra a Coreia do Norte e a Costa do Marfim, nos dias 15 e 20/06, e às 11h, contra Portugal, no dia 25/06. “Os portadores de diabetes, principalmente os que fazem uso de insulina, não devem ficar muito tempo sem comer e ingerir bebida alcoólica. É importante lembrar que o álcool pode levar à hipoglicemia”, alerta Cavalcanti.

O consumo abusivo de álcool não deve ser evitado apenas por quem é portador de diabetes. Todos os médicos são unânimes ao afirmar que o torcedor deveria deixar o chope ou a cerveja descansando no banco de reservas e, em dias de jogos do Brasil na Copa, escalar algo mais saudável e refrescante, como um bom suco de frutas ou chá gelado. “De preferência, suco de maracujá e chá de camomila, que reduzem as chances dos mais tensos e estressados sofrerem um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) durante a partida”, afirma o endocrinologista Tércio Rocha, da Sociedade Brasileira de Medicina Estética.

Mas para quem não consegue assistir a um jogo do Brasil sem tomar um gole de cerveja, os médicos dão algumas instruções. A principal delas é a de beber moderadamente. “É preciso evitar o consumo abusivo. Não se deve ultrapassar, por exemplo, a ingestão de 70 ml de álcool por dia”, salienta a cardiologista Paula Spirito Cunha, do Hospital Copa DOr (RJ). Para Hélio Penna Guimarães, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), é importante também intercalar um copo de chope ou cerveja com outro de água mineral. “A água ajuda a manter o corpo hidratado e reduz as chances do torcedor sofrer os desconfortos da ressaca no dia seguinte”, justifica o cardiologista.

Driblando a ressaca

Se, apesar de tanta recomendação, o torcedor ainda chutar a bola para fora e, pior, ficar de ressaca no dia seguinte, a nutróloga Regina Mestre, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), ensina uma receita que considera infalível para minimizar os efeitos desastrosos do álcool: o suco verde.

“Basta bater no liquidificador uma maçã, talos de aipo, um pouco de gengibre e clorofila e algumas folhas de hortelã ou couve e, depois, tomar em jejum. Além de hidratar o organismo, o suco verde é um ótimo desintoxicante”, recomenda a nutróloga.

Outra dica para evitar a ressaca é a de não beber em jejum. Em hipótese nenhuma. Afinal, o estômago vazio absorve o álcool mais rapidamente. “O melhor a fazer é almoçar antes de começar a beber. De estômago cheio, as pessoas tendem a ingerir menos álcool”, avisa Paulo Olzon Monteiro da Silva, chefe da disciplina de Clínica Médica da Unifesp.

Pisada de bola

Mas não é apenas o álcool que deveriam levar um cartão vermelho do torcedor. O cigarro é outro importante fator de risco para doenças cardiovasculares. “O tabagismo provoca vasoconstrição, que aumenta o risco de infarto”, avisa o endocrinologista Tércio Rocha, referindo-se ao processo de redução do calibre dos vasos sanguíneos pelo efeito da nicotina. Tão perigoso quanto acender um cigarro só mesmo brincar com rojões e morteiros. Nesta época do ano, o movimento do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital do Andaraí (RJ) costuma subir em torno de 30%.

Segundo o chefe do CTQ, Luiz Macieira Guimarães Jr, é preciso tomar cuidado ao comemorar os gols do Brasil com fogos de artifício. Muitos deles são produzidos artesanalmente. “Na hora de acender rojões, sugiro uma distância segura de pelo menos dois metros do próprio corpo. Em vez de segurá-los com a mão, amarre-os a um cabo de vassoura”, alerta o especialista.

 

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