O aumento dos casos de covid-19 e a epidemia de gripe no Brasil tornam a realização do carnaval deste ano um risco para a saúde pública, seja na folia de rua, nos desfiles de escolas de samba ou nas festas privadas. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo Estadão, que julgam o cancelamento do carnaval de rua anunciado em várias capitais um “remédio amargo, mas necessário”.
Segundo os especialistas, o cancelamento é justificado pelo cenário epidemiológico atual do Brasil, além da baixa testagem e da circulação da variante Ômicron – que tem se espalhado mais rápido do que outras variantes em todo o mundo. No entanto, reconhecem que a não realização do carnaval pelo segundo ano consecutivo tem prejuízos socioeconômicos e culturais altos para o País. Por isso, defendem debate amplo das autoridades para encontrar alternativas de apoio.
Na avaliação do infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o ideal é haver menos aglomeração possível enquanto houver aumento de casos e pressão sobre hospitais, cenário registrado em Estados como Bahia, Minas e Pernambuco neste início de ano. “É muito difícil dizer qual o local ideal para o equilíbrio da balança, mas ainda assim tem que se encontrar um caminho com a máxima restrição de público”, disse.
As festas privadas estão mantidas na maioria das capitais brasileiras, apesar do cancelamento do carnaval de rua. Os desfiles de escolas de samba do Rio e de São Paulo também continuam autorizados. Nas duas situações, a existência dos protocolos sanitários, como passaporte de vacina e apresentação de teste para a covid-19, é utilizada como argumento para a realização dos eventos com segurança.
Entretanto, segundo o epidemiologista Fred Diaz Quijano, da Universidade de São Paulo (USP), os protocolos têm um grau de efetividade limitado, insuficiente para controlar a pandemia. Ele afirma que medidas como o passaporte de vacina e apresentação de teste negativo ajudam a evitar a transmissão do vírus, mas dentro de uma situação em que a pandemia está controlada. “Numa situação de pico, o risco de transmissão é alto mesmo com os protocolos”, declarou. Nos cruzeiros, por exemplo, a fixação dessas medidas não impediu surtos entre o fim do ano e o início de janeiro.
O epidemiologista Roberto Medronho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende, por um lado, que os desfiles e as festas privadas também sejam cancelados por causa da explosão de casos e a circulação da Ômicron”, apesar do “cansaço na população depois de dois anos de pandemia”.
Para Medronho, as autoridades precisam iniciar um debate com a sociedade para avaliar até onde vale a pena correr risco para manter festas carnavalescas. Ligado a dois blocos tradicionais no Rio – o Simpatia Quase Amor e o Bloco do Barbas – e compositor de samba, Medronho propõe como alternativa adiar o carnaval para outra data e fazer uma festa fora de época. “Cancelar o carnaval é uma medida muito dura depois de dois anos de pandemia, por isso há de se ter um debate para encontrar alternativas”, disse.
Realizar o desfile das escolas de samba sem público e diminuir o número máximo de pessoas em eventos fechados são outras possibilidades que podem ser discutidas até o final de fevereiro. “Tudo vai depender de qual o risco a sociedade quer correr para ter as festas”, continuou Medronho.
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