Em Hong Kong, uma das metrópoles mais populosas do planeta, o desafio de encontrar uma moradia deu lugar a um movimento tão cruel quanto a própria realidade: a vida em “apartamentos-caixão”.

Viver em microapartamentos com espaço mínimo, muitas vezes sem janela, com minibanheiros e, com sorte, uma minicozinha compartilhada.

É nesse espaço que pessoas como a Miss Lee tentam reconstruir a vida, cercada por sacolas, miudezas e sua cachorrinha, Bibi. “Morar lá é devastador. Devastador. Sinto falta da minha casa. Quero muito voltar para o mundo de quando eu era pequena”, desabafa.

O preço é alto: a Miss Lee paga cerca de R$ 1.400 por mês por um espaço onde mal consegue esticar as pernas. Enquanto isso, a cidade mantém um mercado imobiliário de luxo, com arranha-céus de mais de 100 metros, acessíveis a poucos.

Gam-Tin Ma, outro morador, define a convivência entre vizinhos:

“Somos só pessoas aleatórias num mesmo lugar. É como se não quiséssemos ser inimigos nem amigos.”

A crise, segundo especialistas, nasce da combinação entre especulação imobiliária e precariedade do trabalho. Betty Xiao Wang, professora da Universidade de Hong Kong, alerta: “Há moradores de rua em Londres, Nova York. Aqui, basicamente, eles estão alojados nas casas-caixão. Se o governo proibisse completamente, pra onde iriam?”.

Para muitos, o dia a dia é simplesmente respirar e sobreviver. Mr. Tang, que divide um apartamento de apenas nove metros quadrados, sonha com um pouco de conforto e privacidade: “Um banheiro em que eu consiga entrar de frente. Uma cozinha. Um espaço para colocar uma cadeira e uma mesa ao lado da cama.”