Desde maio, a casa da professora Eliane Marcelina Ribeiro, 43, recebe quatro alunos por vez para aulas de reforço em alfabetização. Moradora do Jardim Brasília, bairro do distrito Cidade Líder, zona leste de São Paulo, ela improvisou uma salinha para dar as atividades.

O trabalho ajuda em um dos processos mais importantes do início escolar e que também foi afetado na pandemia: a alfabetização.

Eliane avalia que o problema já existia antes da Covid-19. “A pandemia escancarou coisas que já estavam ruins, botou para fora”, afirma a educadora que, ao todo, dá reforço para 16 alunos entre 5 e 14 anos.

“Tenho aluno de sétimo ano que eu estou alfabetizando, aluno de sexto ano que não sabia fazer conta de menos. A pandemia foi ano passado, o que eles fizeram nos anos anteriores?”

A alfabetização é a base da educação e um direito de todos segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Federal do Brasil.

No entanto, o Brasil ainda tem 11 milhões de analfabetos, pessoas de 15 anos ou mais que, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), não sabem ler nem escrever.

A pandemia trouxe outros complicadores, por conta do ensino remoto no último um ano e meio. Educadores explicam que a alfabetização é uma fase que exige uma proximidade maior entre professor e aluno, experiência quase inexistente nas aulas ou atividades online.

“É muito difícil alfabetizar à distância porque boa parte do processo, a mais importante, são as intervenções, a forma de avaliar, de orientar a criança. E isso eles perderam, porque a gente não consegue estar lá do lado da criança, uma a uma, ensinando”, lamenta Priscila Ribeiro, 32, professora eventual no escola de ensino básico Celso Augusto Daniel, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

A pior consequência da falta dessa rede de apoio é justamente o risco de abondo da escola.

“Vi vários casos de evasão, de famílias que não participaram. Que disseram que ia voltar quando voltasse o presencial, mas a gente voltou e essas crianças continuam não vindo. Não foi por falta de não ir atrás, de falar sobre a importância”.

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